sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Câmera Lenta

Anda morando nos meus pensamentos - dentre tantos devaneios - o que meu pai disse um dia, olhando o nada, perdido, numa certa nostalgia: "Estações de trem são tão românticas pra mim!". E dava pra ver nos olhos. Suas janelas todas abertas pelo vento que batia e apontava pra uma vista alta e ampla de um certo tempo que já se fora. Imaginei. Quantos amores de uma espera angustiante; Quantos encontros de um amor acutilante; Quantas e mais quantas flores! Quantas dores. Quanto de vida repousava num só lugar! Bem ali, na estação "Amores Que Vivi", Rua "Viveria de Novo", Número "um milhão de vezes".
E que privilégio, ser casa de tanto carinho: Na estação, mora o pobre menino que assiste trem ir e vir, assiste gente entrar e gente sair, na esperança de ser aquela "a porta"; Na rodoviária, os abraços de despedida mais apertados que alguém já deu. Maiores que o coliseu, menores que o tempo na visita de um museu. Menores que o medo de soltar, e sentir que voltou nos próprios braços o amor que era pra ter ficado do outro lado; E os portos, que só da palavra escrita me dão a imagem de um moça olhando um navio zarpar. Segurando um lenço branco a chorar e chorar, imaginando a volta. Se volta tem lá; Paro. Já quase me dá vontade de ser lugar.
Dentre tanto romantismo e lugares para tal, assisto minha viagem. E tenho tantos. Cada um com seu filme em câmera lenta, levado por entre minhas veias, pro lado esquerdo da saudade. Talvez não seja uma rodoviária de abraços exagerados ou um porto de mar de lágrimas. Salgado. Mas o que faz rodar o tal filme, é a vontade de paz. O lugar já existe, a lembrança se faz. Assim então, um dia talvez eu seja avô: Tal vez uma vida no parque; Tal vez abraços em marte; Tal vez um "eu te amo" num metrô.