terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ensaio Sobre o Nunca

Advérbio de cinco letras e de mil inibições, promessas e negações. Palavra daquilo que não nos aconteceu ainda, consolo e afirmação do que não acontecerá. Forte e decidida, porém frágil e tênue. Quem a diz, diz sempre de um jeito diferente: nunca fui; nunca fiz; nunca reparei; nunca provei; nunca corri; nunca caí; nunca vi; nunca vivi. Engraçado, nunca deixei de viver estes. Quem não corre não cai, mas é tão bom correr! Terei de aguentar alguns ralados se quiser me sentir vento também. Surpresas fazem parte: nunca imaginei; nunca pensei. E são estes que dão graça e leveza a nossos dias. Incerteza. Saber que tudo pode dar errado nos coloca em constante expectativa, que por sua vez precede o riso ou choro. Afinal, o que seria da euforia de nossas conquistas não fosse a iminente decepção? Ato rotineiro, país neutro. O que seria sorriso não houvesse cara fechada? Uma lembrança a menos no meu travesseiro. O que seria do amor não fosse sua tenuidade? Morte lenta, enfermidade.
De tanto observar, aprendi que a fala que se fala, me soa cada hora mais artificial. Não é mentira, é auto-afirmação, uma forma de adquirir confiança em si, mecanismos de defesa dessa máquina tão perfeita que controlamos a cada instante e que faz noventa por cento das coisas sem que tenhamos que fazer nada. Um pouco de exagero não faz mal a ninguém, e acho tão bonito quando vem rindo. Porém há quem abuse do coitado do nunca, há quem diga ''nunca mais'', e isso é abusar da capacidade da mente de cumprir o que o corpo a impõe em som. Quem diz ''nunca mais'' fecha uma janela, mas nem percebe que ao mesmo tempo coloca um livro em baixo para que não fique sem o ar que dela vem.
Ensaios à parte, os nuncas que mais gosto são os que possuo, apenas os necessários. Me ousaria a dizer que viver é colecionar nuncas, mas em uma competição, o grande vencedor seria aquele que tivesse menos deles. Possuo também aqueles que me são essenciais, uns de momento, outros constantes, mas mais constantes são mesmo os de momento, lembranças que me tiram do chão. É, acho que é pelas lembranças que estes meus nuncas são tão importantes, eles me lembram da grandeza desses instantes, não que eu precise, pois não sou capaz nem de dar-lhes a infindável medida merecida, mas faço meu melhor e mesmo se for pouco, será tudo que tenho e assim o tempo será grato comigo me deixando tê-los junto a minha alma.

domingo, 27 de novembro de 2011

Estrada ou Carnaval

Não, sua vida não é feita de escolhas como em comerciais de universidades. Escolhas são momentos de reflexão que servem para estremar dúvidas, medos, receios e conceitos. Sim, isso é viver, mas então para viver precisamos sempre estar em continua seleção? Claro que não. A unanimidade é burra. E quando se trata de suas próprias escolhas, ser unanime não é diferente, ser unanime é estar cego por algo tão reluzente que aos teus olhos ofusca muito do que deveria importar.
Estrada ou Carnaval? Me responda! Agora! Doce ilusão, nada na vida é assim. É preciso calma antes de sorrir, é preciso tardes sentado no beiral para a ouvir, é preciso dar dias de chuva ao florir. Na estrada eu vou e conheço, aprendo, presencio, fico, livro, corro, molho, ouço, vejo e registro. Me preocupo com o tempo, mas é mais curiosidade: se chover me molho ou corro; se ventar presencio e ouço; se sol sair me vou e me livro; se frio fizer fico e registro. Parece simples, e é, assim não vejo burrice em meus devaneios. Já o carnaval, exceto a parte da chuva sou eu quem faço: pulo, canto e danço por um dia; pulo, danço e rio por outro; no terceiro danço, rio e me encanto; rio, me encanto e me entrego a tanta euforia e verdade no último dia. Então num instante percebo que fui, conheci, aprendi, presenciei, fiquei, livrei, corri, molhei, ouvi e registrei. É, meu carnaval pareceu mais uma estrada, só que uma com samba e encantos, risos e gritos, uma em que não faltou carinho. Não escolhi, vivi.
Responda ''Estrada ou Carnaval?'' de supetão e te chamarei de louco. Em todavia admirarei sua loucura. Quem é unânime, apenas passa ideia de sensatez. Loucos não se preocupam com a insanidade que podem aparentar, porém sabem do seus quereres e não têm vergonha de assumi-los. Confesso que sempre soube do pouco de insanidade com a qual convivo. Ao menos ela sempre é sincera, fazendo girar minhas vontades e verdades dentro de uma noite.

sábado, 26 de novembro de 2011

Assim Como Viver

Está implícito. Assim como um aceno demorado diz sem dizer ''quero estar mais perto''. Já ouvi falar que é como colocar uma mensagem dentro de uma garrafa e atirá-la ao mar: a possibilidade de que alguém a recolha e leia é remota. Acho que assim minha preferência por Textos Literários se justifica de imediato, por saber que quem escreve, faz da alma tinta, e coloca parte de si numa garrafa esperando que um dia alguém a recolha, alguém estranho talvez, alguém que nunca verá nesse mundo que é tão grande e mudo. Remota sim, mas real. Então se certa manhã, tarde ou noite quem recolhe a tal garrafa compreende o que escreve, compreenderá sua alma em tinta, entenderá parte do seu eu, e isso fará desse mundo que é tão grande não mais mudo, o trazendo aos seus pés (assim como viver). 
Está implícito. Sempre existe no final um ''assim como viver'' pois se existe nessa escrita uma parte do escritor, existe vida e existe emoção. As intenções são as melhores. Ensinar a viver é um dom, mas quem se atreve a me dizer que aprendeu? Somos pobres mortais, mas diria que a habilidade de reconhecer o que é importante é que nos difere: eu leio o que você lê, você entende, eu não tão bem. 
Atiro ao mar uma garrafa e vivo, esperando me comunicar para lembrar-me que continuo tendo aos meus pés o mundo. Seja qual for o destino, já aprendi que a felicidade se encontra mesmo na viagem e que o movimento nos ajuda a existir. Sei que o mar cuidará de minha garrafa e que alguém poderia levar consigo algo da mensagem. Ou não. Entretanto há certo gosto em pensar sozinho, é mesmo ato individual, como nascer e morrer.