terça-feira, 17 de abril de 2012

Vela

Queria um pouco mais de profundidade. Queria avistar gente! bicho! verde! rua! A moça bonita e nunca nua! A história de um jornal, mesmo que lida! Queria mais vida. Queria a sombra de pássaro passando por cima do azul filtrado no âmbar matinal. Assim como o bom dia dos primeiros raios gelados de sol que cumprimentam a caneca em minha mão. Aquele giro que a gente gira pra se esquentar de todos os lados e quem vai cedo pro trabalho com cara de quem foi outrora amado. É bonito, e se não fosse, quanto desprazer traria. A gente faz ser bonito, talento do amor que derrama essa névoa densa e leve, com jeito de fria mas corpo de quente que a gente sente, branca e transparente no nosso olhar, serenamente. Falando assim vejo que a profundidade é capricho meu, mas de forma alguma tolo, culpa dessa janela que dá numa parede, e ela, nem pra ser amarela. É cinza feito uma velha panela. Então chego mais perto pra ver de baixo pra cima, e o dia acende sua vela.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

And a Smile

Arctic Monkeys de perto. Idolatria exagerada e sincera que pula e que exagera e que grita, mas sincera. Último nível da intangível essência vocal, desprendendo do chão nossa impotência de não poder voar e deixar ecoar a voz numa tsunami sonora, uma coisa só. Energia palpável. As melodias que até então só sonhava distantemente ouvir de outra forma, a não ser nos velhos aparelhos mp3. Utopia vivida num abraço desesperado mas calmo, ao som daquilo que é mais íntimo desse amor, ignorando sentidos, tal amor imenso que no grito e no sorriso, se rende ao momento mais puro que já existiu. De essências despejadas, os dois sucumbem a quintessência delas. And a smile.

sábado, 7 de abril de 2012

Ao Partir

No teu armário tem um abraço
Pendurei no cabide perto da blusa de laço
Azul-escuro, pra se lembrar quando eu partir

Pois parto agora lembrando teu traço
E teus cheiros
Aquele de flor
E um outro de cobertor
E aquele ar de aconchego
Que só se encontra no terceiro momento
Em que teus braços deitam os meus

Talvez uma blusa minha tenha ficado
Talvez de propósito
Pra que fique do teu lado
E pra quando adormecer eu fique, de algum jeito
Na bagunça da tua cama
Enquanto na minha eu deito
Desejando que minha bagunça também fosse a tua

Ah! E quando me olha com aqueles olhos vis
De olhar longe e apertado de tão feliz
Qual foi em tal hora minha vontade de me ir?

Ah! Se é pra mim um entrelaço
E se nossos corpos depois de tão tortos e entrelaçados
Não só pela carne, despontam risos a se rir

Ah! Se dois amantes do próprio amor
Se entortam juntos e cheiram a dor
Do vento que bate e teima em esfriar

Sabe lá
Talvez ele não saiba que quanto maior o frio
Maior o amar
Maior o abraço a se esquentar
Maior o mar
Maior a sombra da passarada
Por sobre ele se avoar