sábado, 22 de dezembro de 2012

Conto de Cama

Me chamou a atenção a quantidade de folhas bonitas que ela tinha. Eram tantas e tão bem desenhadas... Tinham formas tão bonitas que desejei poder conhecer a árvore que as hospedou um dia, pra viver em baixo dela e ver tuas folhas caírem uma a uma enquanto o tempo passa devagar. Então de costas com um sorriso e um olhar de canto disse com cara de ansiedade e totalmente decidida: "Com essas, vou lhe fazer uma mais bonita". Pra mim? Mais bonita? E assim ela começou a pisoteá-las, como fazem as belas jovens italianas que vemos pisoteando uvas em filmes, segurando seus longos vestidos e rindo e dançando. Ela só não cantava, ria. Não pude deixar de notar que no céu passavam bandos e bandos de papagaios enquanto as pessoas apontavam, completamente admiradas. Voltei pra moça, pra sua dança cheia de graça. De repente, suas folhas já não eram mais folhas. Pisoteadas, elas esfarelavam como pão, e o vento dava vida a barquinhos. A barquinhos de folha. E navegavam! E navegavam bonito! Navegavam no mar que se aconteceu em nossa volta. Eu, que pousava num lugar seco - talvez uma casa-barco - via-os vindo em minha direção. Tentei segurar um, ele afundou. Estiquei-me mais e num segundo o trouxe. Quando voltei a olhá-la, vi um sorriso de parar no tempo, mais intenso e mais leve que o vento. Sereno, longe, infinito. Daquele em que o corpo todo fica com vergonha de se mostrar tão de perto da boca. Era da cor da aurora, que só dura o "agora". Com toda graça do mundo ela então desceu de onde fabricava barquinhos de folha e mergulhou. E nadou. E nadou até minha casa-barco. Eu a vi, de cabelo molhado, de roupa molhada, de riso molhado, de alma entregue. Um beijo. Minha camisa puxada por ela. Eu na água de jeans e sorriso também. Nadamos pro nada, só pra caso de nosso tudo estar perdido nesses mares. Só pra caso os mares fossem nosso "tudo bem". Acordei.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Tão Calma, Tão Ira

Como num deserto, onde o homem que já delira, tenta entender o que o vento assovia. E se esforça. E nele se guia. E sucumbia de ver que o assovio cochicharia, aquilo que ouvira. Delírios à parte, o teu oásis era bem verdadeiro, tanto que nem ele acreditou de primeiro, tanto que não. Até que assim, de tanto a areia seca matar tua sede em vão, entregou-se ao um certo fim. Então em um só momento, depois de tropeçar no vento, começou a viver o frenesi da sombra na qual caíra. Tão calma, tão ira. Tão louca essa calmaria que o atropelou, enroscou e enlouqueceu tão branco quanto o branco dos ombros, tão forte quanto o calor que fazia. E que agora o deixa de carinho nas mãos, depois de cada partida. E suas camisas, rasgadas e lisas, estavam mesmo é se despedindo do lado de fora. E ela enrolada, pro lado de dentro, ria. Num doce e solto tempo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Rei Menino: Parte II

E quantas vezes o menino já desceu tal rua perdida aos soluços, tão intensos que inibiam qualquer tentativa de choro. Sem norte, sem vento soprando, sem tempo esperando que espera da saudade viva. Sem sorte. Deu duas voltas no nada, deu uma trombada numa senhora gaga, e nem a aceitação das desculpas pedidas quis esperar pra ouvir. No ônibus, mais de um sentaram do teu lado. Mais de três trocaram de lugar devido a agudez de sua inercia total. Suas mão procuraram as dela depois do abraço usual, nada acharam. É menino, sei que gosta do caminho, mas se aguenta que não tá sozinho. Se aguenta que esse final é de versão pra colecionador. O teu tão cedo desponta. Só dor. Sem dor. Só dor. Sem dor. Assim nasceu, assim é teu amor.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Um Tempo

E a felicidade da gente vem de se alegrar com muito menos do que as outras pessoas. Mas não um "menos" de "menos doce", "menos bonito" ou "menos carinho". Pelo contrário. É menos porque todo mundo já nasce sabendo amar, e não a trabalhar, ter, comprar ou ser. Pra isso somos feitos. E me faria feliz com tão pouco que tenho até medo de dizer. Entrego então à manhã de sol, os carinhos de um entardecer na chuva. E à grama seca, os cuidados das roupas molhadas. De tão sereno que nem se mede. E chama. E pede. Por um tempo, pra poder viver no mundo e viajar em casa. Pra fazer paz e dela viver também. Pra distância entre a cama e um copo d'água ser a maior saudade do dia. Ria. Que riso tem sede, meu bem.

sábado, 22 de setembro de 2012

É Vinicius

É Vinicius, bom é ser mesmo de uma mulher só
De um só amor doce, feito lente em pó
Da serenidade mansa que a gente sente voltando pra casa
Sereno, primo primeiro do ameno.

Mas e as paixões?
Ah, o que me diz das paixões?
Sei... Sei... "O grito é a medida do abismo..."
Mas esse aqui tem prateleira!
E em cada uma um canto vinda beira
A findar meus ecos vis
Ao cantar tal céu rosado em meio a estrelas-de-anis.

E agora Senhor Homem de Uma Só Mulher?
Me diz com qual colher
Me diz com qual medida
Me diz mais! Muito mais! Mais da vida!

Porque desde que o sereno
Virou sobrinho do molhado
Molha mais meu papel da escrita
Onde ficava a poesia
Do meu acordar sublimizado
Da minha paixão de não medida
Nem por colher... Nem por Grito... Nem por poesia.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Azul e Amarelo

E ao mar ela vai. Faz de conta um certo horizonte. Conta as conchas e depois trás de monte, começando um riso daqueles que vem de olhar. Cai a linha que divide abismo e mar, pra ela entrar. "Quem decifra o fascínio involuntário causado por um simples prender de cabelos". Então não mais que de repente, o mar agora é dela. Que busca o imenso no momento em que me rendo, e que busca o que é raro num simples movimento. Dançando na luz branca que carrega pra cima e pra baixo e que usa de manta, esticando o pescoço e erguendo os braços sem propósito algum, se não o de causar os encantos que ninguém controla. Pobre do poeta, parece até que voltou pra escola. É que o encanto é mesmo belo. "É vero". E o mar que era azul, agora é azul e amarelo.

sábado, 1 de setembro de 2012

Assim Sessa

Isso! Um laço azul
Levo a fita do fundo do baú
E pra nó(s), um laço só
Quem diria
Que aquele que espera
E esperava certo dia
Viu que de certo
Só quer que ela ria
E que exista
O tal dia

E então, qual vai ser?
O de cabeça baixa e olho fechado?
Aquele despreocupado?
Ou o meu preferido
Por favor
Seja esse riso
Aberto e de queixo em pé
Que faz ventar até
E que explode no rosto de quem teve a sorte
Sorte
Palavra de choro é que não é

Assim, a gente vive em sonho
E dorme na vida
Querendo acordar o dia
Em que o amargo já se foi
Venturando ao doce
Do que sempre tem seu depois
E tanto faz que a vida passe depressa
Pois essa
Adoça o amargo até de mais dois
Fiz o laço
E assim sessa

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cama Dividida

Tão bom quando pedem que a gente não vá embora. E abraços desesperados, e carinhos intensos, e quando é bom mesmo, tem um monte de "eu não vou sair daqui" ou "eu não vou pra longe não". Doce. Tão mel que chega a ser melado. As vezes tanto choro que te faz sentir ter chorado. Mas se é de amor, qual o problema? Bom mesmo é quando é desesperado, e então ver passar o tempo de lado até a hora de rir e depois do sufoco chegar a paz e a calmaria, dormindo juntas, em uma cama dividida.

domingo, 27 de maio de 2012

Piso


Que o sorriso seja demorado
Que o rosto seja calmo
Sem pressa pra acabar
Pra gente achar que não vai

Pro dia parar
Pra calmaria reinar

Nem que seja num segundo
Nem que seja num sorriso
Nem que seja nosso mundo
E a espera disso o nosso piso

terça-feira, 17 de abril de 2012

Vela

Queria um pouco mais de profundidade. Queria avistar gente! bicho! verde! rua! A moça bonita e nunca nua! A história de um jornal, mesmo que lida! Queria mais vida. Queria a sombra de pássaro passando por cima do azul filtrado no âmbar matinal. Assim como o bom dia dos primeiros raios gelados de sol que cumprimentam a caneca em minha mão. Aquele giro que a gente gira pra se esquentar de todos os lados e quem vai cedo pro trabalho com cara de quem foi outrora amado. É bonito, e se não fosse, quanto desprazer traria. A gente faz ser bonito, talento do amor que derrama essa névoa densa e leve, com jeito de fria mas corpo de quente que a gente sente, branca e transparente no nosso olhar, serenamente. Falando assim vejo que a profundidade é capricho meu, mas de forma alguma tolo, culpa dessa janela que dá numa parede, e ela, nem pra ser amarela. É cinza feito uma velha panela. Então chego mais perto pra ver de baixo pra cima, e o dia acende sua vela.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

And a Smile

Arctic Monkeys de perto. Idolatria exagerada e sincera que pula e que exagera e que grita, mas sincera. Último nível da intangível essência vocal, desprendendo do chão nossa impotência de não poder voar e deixar ecoar a voz numa tsunami sonora, uma coisa só. Energia palpável. As melodias que até então só sonhava distantemente ouvir de outra forma, a não ser nos velhos aparelhos mp3. Utopia vivida num abraço desesperado mas calmo, ao som daquilo que é mais íntimo desse amor, ignorando sentidos, tal amor imenso que no grito e no sorriso, se rende ao momento mais puro que já existiu. De essências despejadas, os dois sucumbem a quintessência delas. And a smile.

sábado, 7 de abril de 2012

Ao Partir

No teu armário tem um abraço
Pendurei no cabide perto da blusa de laço
Azul-escuro, pra se lembrar quando eu partir

Pois parto agora lembrando teu traço
E teus cheiros
Aquele de flor
E um outro de cobertor
E aquele ar de aconchego
Que só se encontra no terceiro momento
Em que teus braços deitam os meus

Talvez uma blusa minha tenha ficado
Talvez de propósito
Pra que fique do teu lado
E pra quando adormecer eu fique, de algum jeito
Na bagunça da tua cama
Enquanto na minha eu deito
Desejando que minha bagunça também fosse a tua

Ah! E quando me olha com aqueles olhos vis
De olhar longe e apertado de tão feliz
Qual foi em tal hora minha vontade de me ir?

Ah! Se é pra mim um entrelaço
E se nossos corpos depois de tão tortos e entrelaçados
Não só pela carne, despontam risos a se rir

Ah! Se dois amantes do próprio amor
Se entortam juntos e cheiram a dor
Do vento que bate e teima em esfriar

Sabe lá
Talvez ele não saiba que quanto maior o frio
Maior o amar
Maior o abraço a se esquentar
Maior o mar
Maior a sombra da passarada
Por sobre ele se avoar

quarta-feira, 28 de março de 2012

Soneto da Chuva que Chove

Chuva que chove chegando
Chuva que é pra eu não ir
Chuva que cai feito pranto
Chuva que chove a sorrir

Chuva que é amor derretido
Chuva que eu já chovi
Chuva de amor impedido
Chuva que cai meu aqui

Chove mas hei de daqui partir
Chove, ensaio meu que desafina
Mas fina ou não, chuva, pode cair

Que hoje se for grande a sina
Se quiser não querer meu sair
Ainda irei e amá-la-ei, mania minha

sábado, 24 de março de 2012

Carpete Verde

Ouvindo "By The Way" do Red Hot Chili Peppers. Volto. Certamente meu quarto já foi mais tradicional. Já teve paredes lisas pintadas de verde com carinho de mãe. Verde. Criança é assim mesmo, pintaria o quarto de vermelho ou roxo caso fosse a cor do time de coração, e ai de quem não deixasse. No meu quarto já teve carpete pra poder deitar e brincar no chão, e que tristeza senti quanto arrancaram meu quente e macio chão de pano - que também era verde - para dar lugar a um frio e duro chão de pedra, que não servia nem de base para os bonequinhos do mal - capangas, sub-chefe e chefão (sempre nessa ordem, afinal, é necessário ordem para acabar com vilões perigosos) - e muito menos servia de estrada e estacionamento para carrinhos, e pior, não servia de lugar nem para escolher-los antes de começar a brincadeira - pois a verdadeira diversão de brincar de carrinho para mim era escolher os que mais gostava. Não foi fácil. E já teve tempos em que a única coisa escrita na parede era meu nome. Estava aprendendo, precisava praticar, mas minha mãe não entendia muito bem. Hoje ainda tem estrela no teto aqui, estrela que brilha no escuro e que um dia me ajudaram a dormir. E ainda ajudam. Despontam agora uma parede azul escuro e três brancas que quase não são mais vistas, cobertas de tinta, de palavra, de poesia, de desenho, de fotografia. Cobertas de saudade que no auge dos meus anos de menino nem imaginaria que um dia teria tanta sorte em sentir. Num canto em baixo da cortina pastel tem livro do Vinicius no chão ao invés de gibi da Turma da Mônica - falando nisso, preciso de novos - mas agora tenho um novo velho livro do mestre pra ler. Acabou "By The Way". Crescer não é fácil, a música acabou e infância só vira infância quando deixa de ser. Volto.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Boneco de Pano

Somos todos bonecos de pano
Até o momento em que cuspimos pra fora a essência extremada que nos prende ao chão
Pra deixar de ser boneco
Pra deixar de seguir a canção cantada por nós em forma de oração
Que nos prende ao chão!
E cessar nossa caminhada em forma de marcha comandada
Por alguém que não gosta de doce
Pra começar a dançar a melodia improvisada que sai da caminhada duvidosa

Isso!
Bebeis o fel da dúvida!
E percebeis e gritais teu gosto!
Não julgar
Apenas sentir
Quem sabe desarranja!
Quem sabe vira samba!
De desarranjo o mundo tá cheio
De samba bonito nem tanto, receio

E dançar
E sujar o dedo de tinta pra achar que ele também pinta
E pintar
E se expressar
E ajoelhar
E despejar-se toda hora do teu corpo (que é alugado)
Pra ver se você ainda volta
Pra ver se acha o aluguel caro

E achar bonito a arte
Sim
E fazer arte
Sim
E fazer parte
Sim
Ser mais arte
A mim
Ser mais mundo
Ser mais "eu"!
E no fim
Ver que o mundo é meu

segunda-feira, 12 de março de 2012

Cruzar de Pernas

Eternidade ouvi dizer, tartufia ou não tal ousadia
Que pra sempre é o pra sempre dos diamantes
Admirar-ia
Ajoelhar-ia
Implorar-ia
Amar-te-ia
Se me fizestes deste o para sempre dos amantes

Eternidade que escorre a cada adeus, diria
Se não
Por transbordar
Sim
Por derreter
Doces teus lábios, quando partem
No meio do meu dia-a-dia

Desculpas pedidas, desculpas sofridas
Derivadas do querer
Desculpas mudas, as bonitas de se ver
Como o silêncio de uma mulher
A melhor parte
E a doce ilusão
É adivinhar o que ela quer

Afinal
Não esperamos nada que não valha um cruzar de pernas
Venturado
Espero infinitamente mais
Bem mais!
Da arte
E por ter visto há muito o riso chorar
E por ter visto há muito o choro rir
Em toda parte

sexta-feira, 9 de março de 2012

Tem coisa melhor que dormir a tarde
E acordar a noite achando que já é de manhã?
E arde
E é vã
Essa coisa de eu dormir aqui
Essa coisa de tu dormir aí.

Porque mais fácil seria
Juntar essas marias
Pra deixar de achar que é de manhã só
E deixar de ver que é manhã só
E deixar de tomar café da manhã só
E deixar a manhã fazer do lençol um nó

E deixar ela fazer quantos quiser
Então lhe pedir que pra gente dedique
Um tal nó a dar que pra gente fique
Pois é
Mulher
Um nó de "nós dois"

segunda-feira, 5 de março de 2012

Predicado

Cadê? Não as tenho mais. Onde foram? Quero agora tais! O que houve com minhas palavras que costumavam pular pra fora como quem pula de para-quedas sem o próprio para-quedas, como um suicida que pula de uma ponte, como o homem-bala do circo das belas cidades privilegiadas por suas passagens. Pois é. Elas estão em mim em algum lugar. Quem sabe com medo de serem condenadas aos tristes textos tristes em que viram tantas outras serem e serem não tão belas, quem sabe com receio de virarem migalha de pão e serem batidas da toalha nas janelas. Quem sabe. Mas talvez elas apenas descansem em mim agora. Em algum lugar de mim quando deito. Sinto então que a previsão não é frente-fria no peito. Talvez. Talvez este menino tenha se tornado um bom lugar para se viver, talvez esteja tão tranquilo por dentro que nem mesmo as palavras nascidas para a escrita querem se escrever. Talvez. Talvez as letras não formem mais hoje palavras do doer.
Meio egoísta tal acaso do viver. Quando a gente tem algo ruim lá dentro, o corpo se apressa na faxina que vem no falar, escrever, chorar e se derreter. Mas quando o que tem lá dentro é felicidade, custa em dividir e pra garantir sobra até pra língua que trava ao falar e pros dedos que congelam a poesia. Me peçam pra explicar meu sofrer e me ouça uma semana, mas se quiser de mim o porque do riso distraído e fora de hora, me desculpo por não te responder no agora, me desculpo por não te responder no depois. Assim no que é triste, externar é amenizar a dor. Assim no que é feliz, se internar é ter mais amor. Como disse, meio egoísta. Ou talvez apenas tímido.
É essa intangível aventura que nos prende nos extremos. Extremos imensos mas ainda assim extremos. Como uma cela imensa, porém ainda um cela, dando a quem a habita o predicado de "preso". Porém não cabe a mim tal comparação, já que sei dos extremos o que sei de mim: "muito, mas com certeza não tudo". Mesmo assim, tudo vale a pena se alma não é pequena. Tudo vale a pena se a música é lenta. E vale mais ainda se a distância for grande e for plena. Então sem problema. Formemos mais melodias, erremos o caminho e sejamos errantes orgulhosos e arrependidos, pisemos a terra e olhemos o céu, porque hoje ele está bem azul e a única nuvem que vem se amostrando é uma quer imitar o céu e ser azul também. Deixa ela se colorir. Deixa vai, que hoje a paz aqui derrama tinta e pinta de azul até a pinta do ombro descoberto.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Prece

E se a felicidade te bater, apanhe.
E se bater parecer melhor, duvide.
E se perder for ruim demais, não ganhe.
E se perder lhe fazer chorar, não revide.

Não tem porque fazer sofrer apenas por sofrer.
Não tem porque dizer que dói se a dor já for doer.
Não tem porque viver de amor pra se defender.
Do amor também se apanha, nem tudo tem porquê.

Não é porque a mentira é feia que a verdade é bonita.
Repita.
Padece.
Respira.
Emudece.
Respinga.
Endurece.
Recua.
Adormece.
Cura.
Amanhece.
Parte.
Entristece.
Sofre.
Esquece.
Ama.
Resplandece.
Coitada da verdade que é vítima: do eu; do duvidar; do fiz; do machucar.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Me Espera Carnaval!

E agora? 
O carnaval tá chegando! 
O tempo anda correndo! 
A mulata tá sambando! 
O samba não é lento! 
Será que o tempo tem tempo pro tempo? 
Será que pinto o rosto e seco no vento? 
Não quero perder nada! 
Me esperem confete e serpentina! 
Me esperem máscaras e fantasias! 
Me espere dia! 
Pois a noite é jovem e inquieta. 
Ela não espera, sou eu quem corro atrás dela.


Corro sem receio!
Medo já não tenho!
Prometo sambar e sambar!
Se o carnaval quiser me esperar!
Vou só pegar minha camisa rasgada!
Vai na frente que te alcanço de corpo e alma!
Pra gente correr atrás do bloco todo!
Pra gente se pintar de novo e de novo!
Pra gente olhar pro povo devagar!
Pra gente dançar, dançar e dançar!
Pra gente ver quem se ama se amar!
Pra gente ver que existe mesmo o tal do amar!
Pra gente gritar e gritar!
Pra gente gritar o nosso amar! 


O carnaval tá chegando!
O carnaval tá arrastando!
Uma multidão sem tamanho!
Com sede de festa! 
Com tinta na testa!
E sorriso no rosto!
E samba no pé!
Sentimento deposto!
É bom ou não é?
Acordo pra isso tudo!
Não é tempo pra luto!
É tempo pra cadencia!
Pois por favor tenha a decência!
De sair! 
De cantar! 
De sorrir!
De amar!
De vir!
De se encantar!



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Balela

Feliz de acordar o dia de meus braços fazerem volta em tais curvas nuas de tais lindas ruas. Sou feliz quando antes da presença, passado isso, meus olhares e quereres tem menos olhos e mais crença, e meu eu quando pensa, pensa só em querer o eu teu. Me deixem viver de manias! Pois garanto que as minhas são queridas e desejadas, como quem deseja samba pra sambar. Como quem deseja o amor das amadas. Como quem deseja a ela pra acordar. Me deixem viver meu texto mais bonito! Aquele de mais rimas. Daquelas que arrancam sorrisos por sua graça e cadencia, da menina. Deixem que caia em cima de mim o balão do fascínio, porque neste instante, faria ele voar só com o ar de tão quentes devaneios que me vem a devanear. Esse calor, que não é só da paixão, mas de frio não alcunho o amor. E de ar frio não sobe o balão. Só não me deixem acordar sem ela não.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Soneto de Renda e de Joelho

Falo a saudade é com camaradagem
É íntima de amor e recliná-la é ato vão
Cedo ao brilho vindo da tua imagem
Mais cedo ouço em tuas cartas que não

Minha cama (tua) assim vira pastagem
É qualquer coisa entre o amor e a solidão
Reclamar por teu corpo é quase maldade
Não clamar é renunciar minha paixão

Desejo de pintar o céu de vermelho
Ao ver a renda cobrir teu joelho
Distraída, tu seguras minha mão

E se riso mais bonito que eu aponte tu quiseres
Que me desculpem das cores todas, as mulheres
Mas não existe não

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Deslumbre

Minha face põe-se a saudar o dia e faz-se feita de euforia a vida do menino
Que, dizem as más línguas, anda cansado de tanto regar, podar e carregar flor
Que besteira! A elas dedico vida, noite e dia pra poder colher-las, ao ninho
Onde assim também gosto da saudade do passar a tarde, e esqueço dor

A noite vem e durmo o medo dos que dormem sem querer acordar sozinho
Ainda assim, assistir o tempo dançar é, de tudo e tanto, encantador
Tocar suas coreografias é mais que um simples deslumbre, é carinho
Menina, o tempo é ti, desculpo-me por minha verdadeira fraqueza (amor)

Porém se está a pensar em me condenares por tal confissão, deves acusar
Teus maravilhosos encantos: teus olhos, teu riso, braços, pernas e mãos
E se dou a ti tal dever, é porque a mim não culpo por reparar, nem hei de culpar

Deixo aberta a janela para ouvir os passarinhos que essa manhã vem e vão
A eles conto minha rendição e a eles minha bandeira branca vou levantar
Então, erguida, revela mãos doídas que sangram, mas se em vão, sangue não

domingo, 22 de janeiro de 2012

Cessar Fogo

Bandeira branca que vem de braço esquerdo para braço direito. Vivo com tanta coisa que grita e suplica que mal sei mais qual o valor de minha guerra. Ou sei. Em uma guerra só há perdedores, portanto em condição inimiga de mim mesmo, perco duas vezes. Minto. Perco três vezes, se contar a ousadia de meu peito em recusar proteção. Sendo assim, baixei lei: sobre a guerra, não mais farei. Assim sinto a pressão se esvair enquanto ouço meus ombros agradecendo sua levianidade. Meu acordar que já fora melancólico, agora pede pra ser pleno como linha reta. Senti também pés e chão se reverenciarem sem alvoroço. Pergunto-lhe qual é o sentido de viver um sonho sem a crucial parte do não vive-lo, menino que já é moço? Como tantos outros que guardo a sete chaves invisíveis, devanear é mais um de meus atos individuais, os quais, exercerei por todos cantos de meu mapa. Posso dizer que sempre amarei as manhãs e os vestidos de verão (ah! Como amo os vestidos de verão). Amarei as flores e o que delas encontrar nas pessoas. Amarei a inocência, tal como os enfeites de natal. Amores estes que não merecem o fogo cruzado em que os coloco insistindo em me deixar levar pela beleza de meu imaginar. E não o culpo. Imaginar é tão bom, e na minha cabeça é tão bonito que escolho carregar aquilo, renunciando assim a segurança de não decepcionar-me. Quero paz. Eu canso. Eu cesso. A lei é não sobreviver.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Antes do Desfechar de Olhos

Esqueci meu travesseiro. Não importa o quanto o ajeite, esse não chega a ficar nem parecido com o meu. Parece até exagero, talvez seja, mas infelizmente pra mim é grande coisa. Precisa ser macio, mas não muito fofo. Não pode ser muito baixo e nem doer o pescoço. Desisto de brigar, ele já me venceu, vai me fazer virar e revirar a noite toda esse travesseiro. Ê colchão, és estreito, não macio o suficiente e afunda nos meus dois joelhos. Que desastre. Rio de mim. Me diz como posso conseguir minha posição de dormir assim? Dormir diferente faz mal a saúde. Todo mundo tem uma posição de dormir. É ato individual. Tão íntimo quando o caminho da cama até a escova de dente na manhã. Se sei a posição de dormir de alguém, sei mais do que ninguém. E como é bom saber, amém, tipo de coisa que tem meu apreço. Talvez seja este sonambulo grilo que resolveu me por pra dormir com sua música. A intenção é boa, não vou arrasá-lo dizendo que me incomoda tanto quanto o travesseiro e o colchão. Talvez seja mesmo o colchão ou o travesseiro. Talvez sejam todos eles. Talvez o motivo faça de face meu desconforto.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Rei Menino: Parte I

Será que pode alguém aproveitar algo em quimeras de um menino? Meras vivências de quem vive e devaneia aquilo que vive, enquanto vive. Alguém a quem pertence sonhos tão bobos que prefere guardar pra si. E gosta de carrega-los onde vai. Talvez por achar que estaria muito a baixo de tantos sonhos que beiram epopeias: alguns que visam mil lugares; outros que visam mil pessoas; lembra de um que ouviu que visava mil coisas; um a mais que levaria mil anos e visavam pessoas como coisas; e mais um que repetir-lo ele não ousa. Acha curioso quem constrói um sonho. Pois se é construído, quem tem a planta de tal façanha? Garanto que enriqueceria quem vendesse um papel com as instruções de como construir um sonho. Só mais uma consideração sobre os dias em que pessoas poderiam mesmo comprar um sonho de alguém se lhes dissessem como realiza-lo. O menino agora se sente ainda mais acanhado. Viu que seu sonho aos olhos de outros soaria desambicioso. Mas poderia seu maior querer em vida, por mais simples e frágil que fosse, ser julgado por faltar-lhe ambição? Seu medo agora é contar a alguém o sonho que resume todo seu encanto, e receber em troca um que quer, mais que tudo, ter o carro do ano. Mas um dia ele descobre seu depois, "ah se descobre!", mesmo sem saber o quando, o onde, o como e o quem. Anseia. O curioso é que tal devaneio de vida poderia acontecer num único instante. Com não mais que duas pessoas. Com ou sem coisas as quais chamamos de roupas. E o lugar seria apenas moldura, isso pra ele não importa, se depois da porta quem o chama, chama de um quarto, chama de uma cama.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Diamante

Devo dizer que houve choro e que choro foi ouvido. Lágrimas pesadas, doídas. Jorro feito chuva de verão, e eram mesmo quentes. Pesadas, doídas, sofridas. Mas qual o problema? Nascemos pra chorar. Nascemos pra sofrer. O choro é bonito, sem ele o sofrimento passa desapercebido, e não nascemos para passarmos desapercebidos. Nascemos pra chorar. Nascemos pra sofrer. Nascemos pra lembrar. E então chegamos tão perto de uma das mais puras primícias dessa vida viva, vida vivida: chorar e fazer chorar; sofrer e ter que ver sofrer; lembrar e se fazer lembrar. Nascer. Morrer.
Chuva de verão, chegou sem previsão e me molhou em meio ao meio fio. Mas não levou meu calor. E agora, o que é lágrima e o que é água de nuvem? Não sei, mas vi muito de mim escorrer em peito e mãos. Deviam ser lágrimas, nuvens não são tão grandes. Provei. Tinham gosto sofrido. Senti um pouco de confusão e confesso que um pouco de desilusão, mas esqueci do gosto e encanto senti, quando vi que doce era meu pranto. Não tive mais medo. Afinal, nascemos pra chorar. Nascemos pra sofrer. Nascemos pra lembrar. Nascemos pra temer. Nascer e morrer.
Levantei. Lembrei que os diamantes são para sempre. Aquela água toda me fez me ver em face de mim, e agora sou mais do que nunca antes íntimo de eu. Com outros olhares, olhares mais fundos e mais mundo. Eu, que sem querer descobri, e me rendi a tal beleza. Natureza que vi na chuva de verão, assistindo-a de camarote, minto, acho que me deixaram ficar no palco, e não posso deixar de agradecer. Então me lembrei de quando criança jogando bola na rua, lá vinha chuva e lá ia a meninada se esconder: "Não vai embora, daqui a pouco passa! É chuva de verão!". E costumava passar, porém, dez crianças desejando a mesma coisa, com certeza abrem um canal direto com quem quer que mandaste tal tempestade. No fim, só esperávamos mesmo que passasse. Espero que tenha passado.
O que disse sobre as lágrimas? Mal lembro, mas acho que deviam ter gosto de inocência com muito de algo que ri e de algo que abraça, gosto de amor. Podem rir do meu final. Nascemos pra chorar. Nascemos pra sofrer. Nascemos pra lembrar. Nascemos pra temer. Nascemos pra amar. Nascer e morrer, sem amor, não é viver.

Mim: Parte I

Deixo tudo assim, por mim. Descubro, relembro e descrevo, só pelo anseio de ver chegar meu depois. Comecei a ouvir vontades cansadas de serem enganadas e faladas, agora as faço feitas. Se o tédio se aproxima corto o cabelo e descanso deixando a barba crescer. Gosto da chuva. Gosto do que é ato individual. Gosto de música gostosa de se ouvir e muito mais das que falam de amor, as que causam um alvoroço silencioso e que me fazem, de olhos fechados, me agitar e me remexer por dentro mais que mulata em carnaval. Me sublevo e me rendo ao mesmo tempo. Acordo e dispenso minha armadura. Coitada. Há tempos anda empoeirada por falta de uso. Prefiro sangrar, e sangro vermelho vivo como lápis de cor, como sangue. Porque se tem um medo que não me faz bem, é o medo que fecha minha mão pro que há de vir. Mantenho os que aprecio: medo de trem; medo de medo; medo do armário. Não me amarro a lugar, porém esse meu canto, gosto de arrumar e fazer a cama, só pra ver chegar. Ê mundo, prometo te atravessar, mas por hora, contemplo meu universo que é tão maior, assim como meu amor. Assim como meu amor a vida.