quarta-feira, 28 de março de 2012

Soneto da Chuva que Chove

Chuva que chove chegando
Chuva que é pra eu não ir
Chuva que cai feito pranto
Chuva que chove a sorrir

Chuva que é amor derretido
Chuva que eu já chovi
Chuva de amor impedido
Chuva que cai meu aqui

Chove mas hei de daqui partir
Chove, ensaio meu que desafina
Mas fina ou não, chuva, pode cair

Que hoje se for grande a sina
Se quiser não querer meu sair
Ainda irei e amá-la-ei, mania minha

sábado, 24 de março de 2012

Carpete Verde

Ouvindo "By The Way" do Red Hot Chili Peppers. Volto. Certamente meu quarto já foi mais tradicional. Já teve paredes lisas pintadas de verde com carinho de mãe. Verde. Criança é assim mesmo, pintaria o quarto de vermelho ou roxo caso fosse a cor do time de coração, e ai de quem não deixasse. No meu quarto já teve carpete pra poder deitar e brincar no chão, e que tristeza senti quanto arrancaram meu quente e macio chão de pano - que também era verde - para dar lugar a um frio e duro chão de pedra, que não servia nem de base para os bonequinhos do mal - capangas, sub-chefe e chefão (sempre nessa ordem, afinal, é necessário ordem para acabar com vilões perigosos) - e muito menos servia de estrada e estacionamento para carrinhos, e pior, não servia de lugar nem para escolher-los antes de começar a brincadeira - pois a verdadeira diversão de brincar de carrinho para mim era escolher os que mais gostava. Não foi fácil. E já teve tempos em que a única coisa escrita na parede era meu nome. Estava aprendendo, precisava praticar, mas minha mãe não entendia muito bem. Hoje ainda tem estrela no teto aqui, estrela que brilha no escuro e que um dia me ajudaram a dormir. E ainda ajudam. Despontam agora uma parede azul escuro e três brancas que quase não são mais vistas, cobertas de tinta, de palavra, de poesia, de desenho, de fotografia. Cobertas de saudade que no auge dos meus anos de menino nem imaginaria que um dia teria tanta sorte em sentir. Num canto em baixo da cortina pastel tem livro do Vinicius no chão ao invés de gibi da Turma da Mônica - falando nisso, preciso de novos - mas agora tenho um novo velho livro do mestre pra ler. Acabou "By The Way". Crescer não é fácil, a música acabou e infância só vira infância quando deixa de ser. Volto.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Boneco de Pano

Somos todos bonecos de pano
Até o momento em que cuspimos pra fora a essência extremada que nos prende ao chão
Pra deixar de ser boneco
Pra deixar de seguir a canção cantada por nós em forma de oração
Que nos prende ao chão!
E cessar nossa caminhada em forma de marcha comandada
Por alguém que não gosta de doce
Pra começar a dançar a melodia improvisada que sai da caminhada duvidosa

Isso!
Bebeis o fel da dúvida!
E percebeis e gritais teu gosto!
Não julgar
Apenas sentir
Quem sabe desarranja!
Quem sabe vira samba!
De desarranjo o mundo tá cheio
De samba bonito nem tanto, receio

E dançar
E sujar o dedo de tinta pra achar que ele também pinta
E pintar
E se expressar
E ajoelhar
E despejar-se toda hora do teu corpo (que é alugado)
Pra ver se você ainda volta
Pra ver se acha o aluguel caro

E achar bonito a arte
Sim
E fazer arte
Sim
E fazer parte
Sim
Ser mais arte
A mim
Ser mais mundo
Ser mais "eu"!
E no fim
Ver que o mundo é meu

segunda-feira, 12 de março de 2012

Cruzar de Pernas

Eternidade ouvi dizer, tartufia ou não tal ousadia
Que pra sempre é o pra sempre dos diamantes
Admirar-ia
Ajoelhar-ia
Implorar-ia
Amar-te-ia
Se me fizestes deste o para sempre dos amantes

Eternidade que escorre a cada adeus, diria
Se não
Por transbordar
Sim
Por derreter
Doces teus lábios, quando partem
No meio do meu dia-a-dia

Desculpas pedidas, desculpas sofridas
Derivadas do querer
Desculpas mudas, as bonitas de se ver
Como o silêncio de uma mulher
A melhor parte
E a doce ilusão
É adivinhar o que ela quer

Afinal
Não esperamos nada que não valha um cruzar de pernas
Venturado
Espero infinitamente mais
Bem mais!
Da arte
E por ter visto há muito o riso chorar
E por ter visto há muito o choro rir
Em toda parte

sexta-feira, 9 de março de 2012

Tem coisa melhor que dormir a tarde
E acordar a noite achando que já é de manhã?
E arde
E é vã
Essa coisa de eu dormir aqui
Essa coisa de tu dormir aí.

Porque mais fácil seria
Juntar essas marias
Pra deixar de achar que é de manhã só
E deixar de ver que é manhã só
E deixar de tomar café da manhã só
E deixar a manhã fazer do lençol um nó

E deixar ela fazer quantos quiser
Então lhe pedir que pra gente dedique
Um tal nó a dar que pra gente fique
Pois é
Mulher
Um nó de "nós dois"

segunda-feira, 5 de março de 2012

Predicado

Cadê? Não as tenho mais. Onde foram? Quero agora tais! O que houve com minhas palavras que costumavam pular pra fora como quem pula de para-quedas sem o próprio para-quedas, como um suicida que pula de uma ponte, como o homem-bala do circo das belas cidades privilegiadas por suas passagens. Pois é. Elas estão em mim em algum lugar. Quem sabe com medo de serem condenadas aos tristes textos tristes em que viram tantas outras serem e serem não tão belas, quem sabe com receio de virarem migalha de pão e serem batidas da toalha nas janelas. Quem sabe. Mas talvez elas apenas descansem em mim agora. Em algum lugar de mim quando deito. Sinto então que a previsão não é frente-fria no peito. Talvez. Talvez este menino tenha se tornado um bom lugar para se viver, talvez esteja tão tranquilo por dentro que nem mesmo as palavras nascidas para a escrita querem se escrever. Talvez. Talvez as letras não formem mais hoje palavras do doer.
Meio egoísta tal acaso do viver. Quando a gente tem algo ruim lá dentro, o corpo se apressa na faxina que vem no falar, escrever, chorar e se derreter. Mas quando o que tem lá dentro é felicidade, custa em dividir e pra garantir sobra até pra língua que trava ao falar e pros dedos que congelam a poesia. Me peçam pra explicar meu sofrer e me ouça uma semana, mas se quiser de mim o porque do riso distraído e fora de hora, me desculpo por não te responder no agora, me desculpo por não te responder no depois. Assim no que é triste, externar é amenizar a dor. Assim no que é feliz, se internar é ter mais amor. Como disse, meio egoísta. Ou talvez apenas tímido.
É essa intangível aventura que nos prende nos extremos. Extremos imensos mas ainda assim extremos. Como uma cela imensa, porém ainda um cela, dando a quem a habita o predicado de "preso". Porém não cabe a mim tal comparação, já que sei dos extremos o que sei de mim: "muito, mas com certeza não tudo". Mesmo assim, tudo vale a pena se alma não é pequena. Tudo vale a pena se a música é lenta. E vale mais ainda se a distância for grande e for plena. Então sem problema. Formemos mais melodias, erremos o caminho e sejamos errantes orgulhosos e arrependidos, pisemos a terra e olhemos o céu, porque hoje ele está bem azul e a única nuvem que vem se amostrando é uma quer imitar o céu e ser azul também. Deixa ela se colorir. Deixa vai, que hoje a paz aqui derrama tinta e pinta de azul até a pinta do ombro descoberto.