segunda-feira, 5 de março de 2012

Predicado

Cadê? Não as tenho mais. Onde foram? Quero agora tais! O que houve com minhas palavras que costumavam pular pra fora como quem pula de para-quedas sem o próprio para-quedas, como um suicida que pula de uma ponte, como o homem-bala do circo das belas cidades privilegiadas por suas passagens. Pois é. Elas estão em mim em algum lugar. Quem sabe com medo de serem condenadas aos tristes textos tristes em que viram tantas outras serem e serem não tão belas, quem sabe com receio de virarem migalha de pão e serem batidas da toalha nas janelas. Quem sabe. Mas talvez elas apenas descansem em mim agora. Em algum lugar de mim quando deito. Sinto então que a previsão não é frente-fria no peito. Talvez. Talvez este menino tenha se tornado um bom lugar para se viver, talvez esteja tão tranquilo por dentro que nem mesmo as palavras nascidas para a escrita querem se escrever. Talvez. Talvez as letras não formem mais hoje palavras do doer.
Meio egoísta tal acaso do viver. Quando a gente tem algo ruim lá dentro, o corpo se apressa na faxina que vem no falar, escrever, chorar e se derreter. Mas quando o que tem lá dentro é felicidade, custa em dividir e pra garantir sobra até pra língua que trava ao falar e pros dedos que congelam a poesia. Me peçam pra explicar meu sofrer e me ouça uma semana, mas se quiser de mim o porque do riso distraído e fora de hora, me desculpo por não te responder no agora, me desculpo por não te responder no depois. Assim no que é triste, externar é amenizar a dor. Assim no que é feliz, se internar é ter mais amor. Como disse, meio egoísta. Ou talvez apenas tímido.
É essa intangível aventura que nos prende nos extremos. Extremos imensos mas ainda assim extremos. Como uma cela imensa, porém ainda um cela, dando a quem a habita o predicado de "preso". Porém não cabe a mim tal comparação, já que sei dos extremos o que sei de mim: "muito, mas com certeza não tudo". Mesmo assim, tudo vale a pena se alma não é pequena. Tudo vale a pena se a música é lenta. E vale mais ainda se a distância for grande e for plena. Então sem problema. Formemos mais melodias, erremos o caminho e sejamos errantes orgulhosos e arrependidos, pisemos a terra e olhemos o céu, porque hoje ele está bem azul e a única nuvem que vem se amostrando é uma quer imitar o céu e ser azul também. Deixa ela se colorir. Deixa vai, que hoje a paz aqui derrama tinta e pinta de azul até a pinta do ombro descoberto.

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