sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Deslumbre

Minha face põe-se a saudar o dia e faz-se feita de euforia a vida do menino
Que, dizem as más línguas, anda cansado de tanto regar, podar e carregar flor
Que besteira! A elas dedico vida, noite e dia pra poder colher-las, ao ninho
Onde assim também gosto da saudade do passar a tarde, e esqueço dor

A noite vem e durmo o medo dos que dormem sem querer acordar sozinho
Ainda assim, assistir o tempo dançar é, de tudo e tanto, encantador
Tocar suas coreografias é mais que um simples deslumbre, é carinho
Menina, o tempo é ti, desculpo-me por minha verdadeira fraqueza (amor)

Porém se está a pensar em me condenares por tal confissão, deves acusar
Teus maravilhosos encantos: teus olhos, teu riso, braços, pernas e mãos
E se dou a ti tal dever, é porque a mim não culpo por reparar, nem hei de culpar

Deixo aberta a janela para ouvir os passarinhos que essa manhã vem e vão
A eles conto minha rendição e a eles minha bandeira branca vou levantar
Então, erguida, revela mãos doídas que sangram, mas se em vão, sangue não

domingo, 22 de janeiro de 2012

Cessar Fogo

Bandeira branca que vem de braço esquerdo para braço direito. Vivo com tanta coisa que grita e suplica que mal sei mais qual o valor de minha guerra. Ou sei. Em uma guerra só há perdedores, portanto em condição inimiga de mim mesmo, perco duas vezes. Minto. Perco três vezes, se contar a ousadia de meu peito em recusar proteção. Sendo assim, baixei lei: sobre a guerra, não mais farei. Assim sinto a pressão se esvair enquanto ouço meus ombros agradecendo sua levianidade. Meu acordar que já fora melancólico, agora pede pra ser pleno como linha reta. Senti também pés e chão se reverenciarem sem alvoroço. Pergunto-lhe qual é o sentido de viver um sonho sem a crucial parte do não vive-lo, menino que já é moço? Como tantos outros que guardo a sete chaves invisíveis, devanear é mais um de meus atos individuais, os quais, exercerei por todos cantos de meu mapa. Posso dizer que sempre amarei as manhãs e os vestidos de verão (ah! Como amo os vestidos de verão). Amarei as flores e o que delas encontrar nas pessoas. Amarei a inocência, tal como os enfeites de natal. Amores estes que não merecem o fogo cruzado em que os coloco insistindo em me deixar levar pela beleza de meu imaginar. E não o culpo. Imaginar é tão bom, e na minha cabeça é tão bonito que escolho carregar aquilo, renunciando assim a segurança de não decepcionar-me. Quero paz. Eu canso. Eu cesso. A lei é não sobreviver.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Antes do Desfechar de Olhos

Esqueci meu travesseiro. Não importa o quanto o ajeite, esse não chega a ficar nem parecido com o meu. Parece até exagero, talvez seja, mas infelizmente pra mim é grande coisa. Precisa ser macio, mas não muito fofo. Não pode ser muito baixo e nem doer o pescoço. Desisto de brigar, ele já me venceu, vai me fazer virar e revirar a noite toda esse travesseiro. Ê colchão, és estreito, não macio o suficiente e afunda nos meus dois joelhos. Que desastre. Rio de mim. Me diz como posso conseguir minha posição de dormir assim? Dormir diferente faz mal a saúde. Todo mundo tem uma posição de dormir. É ato individual. Tão íntimo quando o caminho da cama até a escova de dente na manhã. Se sei a posição de dormir de alguém, sei mais do que ninguém. E como é bom saber, amém, tipo de coisa que tem meu apreço. Talvez seja este sonambulo grilo que resolveu me por pra dormir com sua música. A intenção é boa, não vou arrasá-lo dizendo que me incomoda tanto quanto o travesseiro e o colchão. Talvez seja mesmo o colchão ou o travesseiro. Talvez sejam todos eles. Talvez o motivo faça de face meu desconforto.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Rei Menino: Parte I

Será que pode alguém aproveitar algo em quimeras de um menino? Meras vivências de quem vive e devaneia aquilo que vive, enquanto vive. Alguém a quem pertence sonhos tão bobos que prefere guardar pra si. E gosta de carrega-los onde vai. Talvez por achar que estaria muito a baixo de tantos sonhos que beiram epopeias: alguns que visam mil lugares; outros que visam mil pessoas; lembra de um que ouviu que visava mil coisas; um a mais que levaria mil anos e visavam pessoas como coisas; e mais um que repetir-lo ele não ousa. Acha curioso quem constrói um sonho. Pois se é construído, quem tem a planta de tal façanha? Garanto que enriqueceria quem vendesse um papel com as instruções de como construir um sonho. Só mais uma consideração sobre os dias em que pessoas poderiam mesmo comprar um sonho de alguém se lhes dissessem como realiza-lo. O menino agora se sente ainda mais acanhado. Viu que seu sonho aos olhos de outros soaria desambicioso. Mas poderia seu maior querer em vida, por mais simples e frágil que fosse, ser julgado por faltar-lhe ambição? Seu medo agora é contar a alguém o sonho que resume todo seu encanto, e receber em troca um que quer, mais que tudo, ter o carro do ano. Mas um dia ele descobre seu depois, "ah se descobre!", mesmo sem saber o quando, o onde, o como e o quem. Anseia. O curioso é que tal devaneio de vida poderia acontecer num único instante. Com não mais que duas pessoas. Com ou sem coisas as quais chamamos de roupas. E o lugar seria apenas moldura, isso pra ele não importa, se depois da porta quem o chama, chama de um quarto, chama de uma cama.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Diamante

Devo dizer que houve choro e que choro foi ouvido. Lágrimas pesadas, doídas. Jorro feito chuva de verão, e eram mesmo quentes. Pesadas, doídas, sofridas. Mas qual o problema? Nascemos pra chorar. Nascemos pra sofrer. O choro é bonito, sem ele o sofrimento passa desapercebido, e não nascemos para passarmos desapercebidos. Nascemos pra chorar. Nascemos pra sofrer. Nascemos pra lembrar. E então chegamos tão perto de uma das mais puras primícias dessa vida viva, vida vivida: chorar e fazer chorar; sofrer e ter que ver sofrer; lembrar e se fazer lembrar. Nascer. Morrer.
Chuva de verão, chegou sem previsão e me molhou em meio ao meio fio. Mas não levou meu calor. E agora, o que é lágrima e o que é água de nuvem? Não sei, mas vi muito de mim escorrer em peito e mãos. Deviam ser lágrimas, nuvens não são tão grandes. Provei. Tinham gosto sofrido. Senti um pouco de confusão e confesso que um pouco de desilusão, mas esqueci do gosto e encanto senti, quando vi que doce era meu pranto. Não tive mais medo. Afinal, nascemos pra chorar. Nascemos pra sofrer. Nascemos pra lembrar. Nascemos pra temer. Nascer e morrer.
Levantei. Lembrei que os diamantes são para sempre. Aquela água toda me fez me ver em face de mim, e agora sou mais do que nunca antes íntimo de eu. Com outros olhares, olhares mais fundos e mais mundo. Eu, que sem querer descobri, e me rendi a tal beleza. Natureza que vi na chuva de verão, assistindo-a de camarote, minto, acho que me deixaram ficar no palco, e não posso deixar de agradecer. Então me lembrei de quando criança jogando bola na rua, lá vinha chuva e lá ia a meninada se esconder: "Não vai embora, daqui a pouco passa! É chuva de verão!". E costumava passar, porém, dez crianças desejando a mesma coisa, com certeza abrem um canal direto com quem quer que mandaste tal tempestade. No fim, só esperávamos mesmo que passasse. Espero que tenha passado.
O que disse sobre as lágrimas? Mal lembro, mas acho que deviam ter gosto de inocência com muito de algo que ri e de algo que abraça, gosto de amor. Podem rir do meu final. Nascemos pra chorar. Nascemos pra sofrer. Nascemos pra lembrar. Nascemos pra temer. Nascemos pra amar. Nascer e morrer, sem amor, não é viver.

Mim: Parte I

Deixo tudo assim, por mim. Descubro, relembro e descrevo, só pelo anseio de ver chegar meu depois. Comecei a ouvir vontades cansadas de serem enganadas e faladas, agora as faço feitas. Se o tédio se aproxima corto o cabelo e descanso deixando a barba crescer. Gosto da chuva. Gosto do que é ato individual. Gosto de música gostosa de se ouvir e muito mais das que falam de amor, as que causam um alvoroço silencioso e que me fazem, de olhos fechados, me agitar e me remexer por dentro mais que mulata em carnaval. Me sublevo e me rendo ao mesmo tempo. Acordo e dispenso minha armadura. Coitada. Há tempos anda empoeirada por falta de uso. Prefiro sangrar, e sangro vermelho vivo como lápis de cor, como sangue. Porque se tem um medo que não me faz bem, é o medo que fecha minha mão pro que há de vir. Mantenho os que aprecio: medo de trem; medo de medo; medo do armário. Não me amarro a lugar, porém esse meu canto, gosto de arrumar e fazer a cama, só pra ver chegar. Ê mundo, prometo te atravessar, mas por hora, contemplo meu universo que é tão maior, assim como meu amor. Assim como meu amor a vida.