quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Uma vez

"Havia venenos tão sutis que para conhecer as suas propriedades, era preciso adoecer". E adoeci. Adoeci em meus desejos, adoeci em minhas palavras, adoeci em minhas veias. Veias, por ela contadas uma a uma em meus braços brancos, com uma certa satisfação que por costume de ser, vestia um sorriso. E o vestia por perceber que seu veneno quente, eufórico e agridoce - que causava em mim tanto prazer ao pequeno preço da amargura - viajava à velocidade de uma meia luz acesa no quarto, pelas verdes partes de meu corpo. Adoecido e encantado.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Pra Não Deixar de Ser

E a vida anda assim, nessa curiosa calmaria. Me faz sonhar de noite, me faz querer "bom dia". Me faz pensar e pensar mais ainda. Pensar nos quatro cantos dos mais longes, que o espaço tem pra oferecer. Nas luzes de natal no canto do meu quarto, das quais o "piscar" com o qual já acostumei. Pensar no fato de escrever, só pra não perder o traço e só pra não deixar de ser. Só pra não deixar de ser os medos e as manias, e a essência sem camisa de um menino que é só menino, querendo ver a vida vestida num lençol. Sabendo que amor depressa vira sol a pino, e amor de cama, por do sol. Sereno, amante, vermelho.

domingo, 23 de junho de 2013

Aqui

E é aqui o lugar onde eu me encontro mais. Um plano simples e sem fim onde os olhos mal vêem a dobra do horizonte adiante. Simples, porque nada é mais simples do que algo que não tem fim, que apenas existe e que não tem pressa de acabar, de ver o mundo dobrar. É aqui onde passeio entre o palpável e o intangível inimaginável, presentes nos meus mais doces devaneios, que de tão reais, faz-se real também seu refujo. Aqui tenho a calmaria de um milhão de sóis na temperatura de um cobertor e tenho a paz do vento mais lento onde deito. A primavera pendurada de enfeite a cima da cabeça e o mundo em cartaz me levando pra viajar e dizendo: "Sai de casa! Pega a estrada". Me acordem, não me acordem. Me acordem, não me acordem. Me acordem. Me acorda! Mas só se for pra viver de verdade, pois prefiro meus sóis, ventos e primaveras, a viver sem perceber, a viver pela metade.

domingo, 19 de maio de 2013

Sessenta e Três

Talvez seja o meu eu, na altura de seus sessenta e três anos de verões e não verões falando, mas quando somos jovens, nós apenas "queremos"! Possuímos a infinita sensação do infinito a ser possuído. O impeto feroz que infla os pulmões de saudade ainda a ser sentida. Temos a certeza absoluta de que pra abraçar o mundo, basta sentir o vento na cara, basta respirar só uma vez e bem fundo. Colecionamos desejos, como se a brincadeira da vida fosse realiza-los. Então lá se vai o pensamento, e a cada novo dia, novos mil desejos e mais mil! Sabemos que é linda a juventude, vemos como são lindos os sorrisos, rimos e rimos da ironias de que você pode sim, achar uma lâmpada mágica, mas a única coisa que não pode pedir, é para ser gênio também. E assim, movidos a desejos o mundo gira e o sol sobe e desce vermelho. Meu desejo agora é sair dessa varanda e sentar a mesa. Me chamam pro almoço: Macarrão, omelete, suco. Desculpem as delongas, as pessoas falam mesmo bastante nessa idade. Amem seus gênios. Apenas amem demais e demais.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Riqueza da Alma

Hoje sou a materialização do que há de mais nobre em minha alma, do que existe de mais sincero, justo e amado. Sou um rio que já não se aguenta e que transborda livremente sem hora pra parar. Minha vontade era de voar, uma cidade toda e deixar que esse rio virasse chuva, que chovesse de mim! Com certeza eu expressaria melhor essa riqueza da alma se pudesse molhar alguém com a mesma. Uma pena. Só o que temos são olhares e abraços. Assim, olho e abraço, na esperança de deixar passar do meu corpo todo o amor que podia dar. Pois é, só o que temos são olhares e abraços, e ainda bem que temos. O amor passa de mim, mas todo não. E a parte que fica me leva pra casa. Eu a chamo de carinho, de infinito, de admiração. Desse amor que pra pano de fundo, escolheu o que sou hoje: Pois hoje eu sou a gratidão.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Soneto de Escrever Junto


História bonita, não se vive sozinho
Se vive na praça à beira do mar
Passeia quando é dia, dorme no ninho
Livre passarinho, preso por amar

Melhor é sempre amar, bem devagarzinho
E no calor dos braços, te ter (por completo)
Fogo e paz, que cabem num só carinho
Lua que guarda ao mundo os sonhos mais secretos

Eterna seja, a mais doce aventura
Me apaixonar por teu mundo, tão natural
Que não se diz, nem da menor perjura

De repente, da gratidão a um pano de fundo
Perto e longe, é a saudade e é a cura
Do que é nosso, e de todo amor do mundo

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Câmera Lenta

Anda morando nos meus pensamentos - dentre tantos devaneios - o que meu pai disse um dia, olhando o nada, perdido, numa certa nostalgia: "Estações de trem são tão românticas pra mim!". E dava pra ver nos olhos. Suas janelas todas abertas pelo vento que batia e apontava pra uma vista alta e ampla de um certo tempo que já se fora. Imaginei. Quantos amores de uma espera angustiante; Quantos encontros de um amor acutilante; Quantas e mais quantas flores! Quantas dores. Quanto de vida repousava num só lugar! Bem ali, na estação "Amores Que Vivi", Rua "Viveria de Novo", Número "um milhão de vezes".
E que privilégio, ser casa de tanto carinho: Na estação, mora o pobre menino que assiste trem ir e vir, assiste gente entrar e gente sair, na esperança de ser aquela "a porta"; Na rodoviária, os abraços de despedida mais apertados que alguém já deu. Maiores que o coliseu, menores que o tempo na visita de um museu. Menores que o medo de soltar, e sentir que voltou nos próprios braços o amor que era pra ter ficado do outro lado; E os portos, que só da palavra escrita me dão a imagem de um moça olhando um navio zarpar. Segurando um lenço branco a chorar e chorar, imaginando a volta. Se volta tem lá; Paro. Já quase me dá vontade de ser lugar.
Dentre tanto romantismo e lugares para tal, assisto minha viagem. E tenho tantos. Cada um com seu filme em câmera lenta, levado por entre minhas veias, pro lado esquerdo da saudade. Talvez não seja uma rodoviária de abraços exagerados ou um porto de mar de lágrimas. Salgado. Mas o que faz rodar o tal filme, é a vontade de paz. O lugar já existe, a lembrança se faz. Assim então, um dia talvez eu seja avô: Tal vez uma vida no parque; Tal vez abraços em marte; Tal vez um "eu te amo" num metrô.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Vinte e Cinco

Olha a ansiedade. Ela vem sem freio, sem nem ter idade. Faz um quarto virar um sonho acordado. Sonho de papel colado em parede, de um canto pra esticar uma rede e de uma cortina de mapa mundi, pra assim quando aberta revelar às janelas da alma, que o melhor lugar pra se viver com calma, é do lado de dentro de uma janela sem rua. Seja a casa com telhado de barro ou com telhado de estrela e poste de lua.
Ansiedade. Até na hora de sentar na varanda pra ver se a natureza anda trabalhando direito. Se a chuva anda molhando a terra bem feito. Até nessa hora, sem querer ela vem, perguntando que horas é que vai sair do banho, que horas bem vem. Que horas minha fiscalização vai perder o sentido, ao ver que do meu lado chega minha espera, uma paz molhada vestindo sorrisos. 
Deixo serena a chuva cair, ela já sabe o que faz e não precisa mais de mim. Abraço as novas nostalgias, as próximas distancias, o caminho do meio - do amor devagar, do amor sem medo - que me guia nessa peça sem pressa de me mostrar meu "eu". Então digo todo bobo, que a ansiedade, é só saudade do que a gente ainda não viveu.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

De Baixo da Minha Cama


Não corro. Aprendi a ter o ritmo exato que tem o vento quando bate no mato. O ritmo de um ajuste num quadro. De um retrato parado, que espera sereno até alguém o olhar, recordar, sorrir, apontar ou mudá-lo de lugar. Assim, não sofro mais que uma vez só. Já sei de cor que quando o mundo manda não dá escolha. E a gente que tanto ama, desvive.
Quem corre eu deixo correr. Quem fala alto demais, deixo descrer na minha atenção de menino. Atenção que se alegra muito mais da serenidade misteriosa, do sorriso que explode, do riso da prosa, do jeito de andar dançando sem perceber e de falar cantando sem querer. De cessar meu pranto ao custo de uma viagem de mala, sol e canto.
Levo a mim, docemente distraído. Me faltam planos. Me sobram sorrisos, quando percebo que o sentido disso tudo se perde onde eu for: Já que meus planos, eu desfaço todos por um amor. Vendo a chuva por um vidro, que apesar de transparente e que apesar de colorido, me deixa assistir o filme do céu cair. Num horizonte azul, de "ir e vir".
Pra chegar o dia do encontro do "eu" com o "mundo", quando cavei o buraco mais fundo pra lá jogar minha solidão. Pra lá deixar morar meus "nãos". Pra sempre guardar e nunca esquecer, e fazer o bem a cima de tudo a quem se ama. E o buraco que cavei - dia sim e dia não - me chama. É seguro. Está ao meu alcance. É de baixo da minha cama.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Minas Gerais

Sempre gostei das vistas de janelas. E nem falo daquelas paradisíacas de novela ao som de bossa nova ou de manhãs de filmes em hotéis a beira mar. Confesso que estas também tem lá sua beleza. Mas falo mesmo é das que vivem. Aquelas que passam a existir quando se deita na cama e se olha pro lado de fora, pro mundo emoldurado num quadrado de madeira. Aleatórias e sem eira nem beira. Como aquela do meu quarto na cidade: Um pedaço de telhado em baixo d'uma velha antena de tv. Uma árvore na calçada fazendo companhia a um poste doente e de luz amarela. Tudo isso na minha rua, onde podia ver sempre se já tinha alguém jogando bola. E se caso não tivesse corria pra lá assim mesmo, tentar fazer todos jogarem.
Passei então a prestar atenção na janela dos outros e aproveitava as visitas que fazia pra aumentar minha coleção. Do cinza ao verde. Da água diurna as luzes noturnas. Media minhas melhores pelo quanto mais longe eu visse, e achava uma pessoa de sorte quem ali dormia ou passava a tarde. Porém se da janela só parede eu visse, não achava nada. Voltava triste. Mas com a descoberta viva de fundo: "É assim então que esse alguém vê o mundo!"
De tantas enfim, a que mais gostava era a janela de uma casa no interior onde passei muito tempo de menino: A copa verde de uma mangueira alta e cheia de manga, em cima do telhado de barro de um rancho laranja. Céu azul ou dourado. A cor era questão de gosto. O tempo lá, era um rei deposto, que como cidadão me fez amigo e concordou num almoço: O abraço da cama numa tarde de sábado, é a prova de quem ama. É a preguiça num só laço. É vento que entra e sai do cais. É saudade que atrasa o passo. É - imensamente - paz.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

À Par

Vento na janela. Água pro lado de fora. O dia se revigora e a esperança também. A manhã, com ou sem "bom dia", ainda me acorda com café na cama, e ainda por cima sabe do que gosto: Luz leve pra levantar; Calor ameno pra trocar de roupa; Luzes de natal que ficaram ligadas a noite toda, pra quem passa imaginar que a véspera é hoje; Um "gostar" que quer ser mais; Poesia pedindo pra ser ouvida, imensamente, vivida. Pois é. Vento na janela. Água pro lado de fora. E a manhã, ao contrário de sua irmã, não me faz voltar pra casa debaixo da chuva, vendo a curva da terra e fazendo a curva da rua. Querendo ficar. Se banhar. Mas, dona tarde: "Eu estava a pé, e não à par".