segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Vinte e Cinco

Olha a ansiedade. Ela vem sem freio, sem nem ter idade. Faz um quarto virar um sonho acordado. Sonho de papel colado em parede, de um canto pra esticar uma rede e de uma cortina de mapa mundi, pra assim quando aberta revelar às janelas da alma, que o melhor lugar pra se viver com calma, é do lado de dentro de uma janela sem rua. Seja a casa com telhado de barro ou com telhado de estrela e poste de lua.
Ansiedade. Até na hora de sentar na varanda pra ver se a natureza anda trabalhando direito. Se a chuva anda molhando a terra bem feito. Até nessa hora, sem querer ela vem, perguntando que horas é que vai sair do banho, que horas bem vem. Que horas minha fiscalização vai perder o sentido, ao ver que do meu lado chega minha espera, uma paz molhada vestindo sorrisos. 
Deixo serena a chuva cair, ela já sabe o que faz e não precisa mais de mim. Abraço as novas nostalgias, as próximas distancias, o caminho do meio - do amor devagar, do amor sem medo - que me guia nessa peça sem pressa de me mostrar meu "eu". Então digo todo bobo, que a ansiedade, é só saudade do que a gente ainda não viveu.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

De Baixo da Minha Cama


Não corro. Aprendi a ter o ritmo exato que tem o vento quando bate no mato. O ritmo de um ajuste num quadro. De um retrato parado, que espera sereno até alguém o olhar, recordar, sorrir, apontar ou mudá-lo de lugar. Assim, não sofro mais que uma vez só. Já sei de cor que quando o mundo manda não dá escolha. E a gente que tanto ama, desvive.
Quem corre eu deixo correr. Quem fala alto demais, deixo descrer na minha atenção de menino. Atenção que se alegra muito mais da serenidade misteriosa, do sorriso que explode, do riso da prosa, do jeito de andar dançando sem perceber e de falar cantando sem querer. De cessar meu pranto ao custo de uma viagem de mala, sol e canto.
Levo a mim, docemente distraído. Me faltam planos. Me sobram sorrisos, quando percebo que o sentido disso tudo se perde onde eu for: Já que meus planos, eu desfaço todos por um amor. Vendo a chuva por um vidro, que apesar de transparente e que apesar de colorido, me deixa assistir o filme do céu cair. Num horizonte azul, de "ir e vir".
Pra chegar o dia do encontro do "eu" com o "mundo", quando cavei o buraco mais fundo pra lá jogar minha solidão. Pra lá deixar morar meus "nãos". Pra sempre guardar e nunca esquecer, e fazer o bem a cima de tudo a quem se ama. E o buraco que cavei - dia sim e dia não - me chama. É seguro. Está ao meu alcance. É de baixo da minha cama.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Minas Gerais

Sempre gostei das vistas de janelas. E nem falo daquelas paradisíacas de novela ao som de bossa nova ou de manhãs de filmes em hotéis a beira mar. Confesso que estas também tem lá sua beleza. Mas falo mesmo é das que vivem. Aquelas que passam a existir quando se deita na cama e se olha pro lado de fora, pro mundo emoldurado num quadrado de madeira. Aleatórias e sem eira nem beira. Como aquela do meu quarto na cidade: Um pedaço de telhado em baixo d'uma velha antena de tv. Uma árvore na calçada fazendo companhia a um poste doente e de luz amarela. Tudo isso na minha rua, onde podia ver sempre se já tinha alguém jogando bola. E se caso não tivesse corria pra lá assim mesmo, tentar fazer todos jogarem.
Passei então a prestar atenção na janela dos outros e aproveitava as visitas que fazia pra aumentar minha coleção. Do cinza ao verde. Da água diurna as luzes noturnas. Media minhas melhores pelo quanto mais longe eu visse, e achava uma pessoa de sorte quem ali dormia ou passava a tarde. Porém se da janela só parede eu visse, não achava nada. Voltava triste. Mas com a descoberta viva de fundo: "É assim então que esse alguém vê o mundo!"
De tantas enfim, a que mais gostava era a janela de uma casa no interior onde passei muito tempo de menino: A copa verde de uma mangueira alta e cheia de manga, em cima do telhado de barro de um rancho laranja. Céu azul ou dourado. A cor era questão de gosto. O tempo lá, era um rei deposto, que como cidadão me fez amigo e concordou num almoço: O abraço da cama numa tarde de sábado, é a prova de quem ama. É a preguiça num só laço. É vento que entra e sai do cais. É saudade que atrasa o passo. É - imensamente - paz.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

À Par

Vento na janela. Água pro lado de fora. O dia se revigora e a esperança também. A manhã, com ou sem "bom dia", ainda me acorda com café na cama, e ainda por cima sabe do que gosto: Luz leve pra levantar; Calor ameno pra trocar de roupa; Luzes de natal que ficaram ligadas a noite toda, pra quem passa imaginar que a véspera é hoje; Um "gostar" que quer ser mais; Poesia pedindo pra ser ouvida, imensamente, vivida. Pois é. Vento na janela. Água pro lado de fora. E a manhã, ao contrário de sua irmã, não me faz voltar pra casa debaixo da chuva, vendo a curva da terra e fazendo a curva da rua. Querendo ficar. Se banhar. Mas, dona tarde: "Eu estava a pé, e não à par".